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24 de mai. de 2010

"Por que não temos bons roteiristas de quadrinhos no Brasil?"


Essa pergunta foi feita a alguns dias atrás no blog do André Forastieri e devidamente respondida pelo mesmo. Pelo menos aquilo que ele acha quais são os motivos.
Tenho que concordar com o cara em certos quesitos, mas acho que o buraco é mais embaixo. Tanto que os comentários foram abarrotados de opiniões diversas sobre o caso.

Concordo quando ele diz que o quadrinho brasileiro está repleto de ilustradores talentosos, só que ele declara que temos "um deserto de roteiristas competentes". E ele nem está falando dos criadores de primeiro time. E também não menciona quem são esses criadores de 1° escalão.
Imagino que ele tirou todos os medalhões da parada, os mais famosos, mas não excluiu talvez os vários professores de roteiro de HQ que tem por aí. Se não, como explicar essa opinião? Estão fazendo o serviço mal feito?
Hordas de pessoas fazem esses cursos todo ano, então só me leva a crer que eles não estão aprendendo o feijão com arroz dos roteiros de quadrinhos...

Ele compara os quadrinhos nacionais ao cinema brasileiro, que segundo ele, funciona igual. O roteiro seria só um guia básico para as improvisações do diretor e do elenco, durante as filmagens.
Acho meio injusta essa comparação, tendo em vista que estamos falando de mídias diferentes e já que ele tirou o time dos mais-mais de campo, sobram apenas os "independentes" na parada. E comparar trabalho pago com trabalho muitas vezes nem um pouco remunerado é muito foda!

Mas ele dá algumas explicações sobre os "porquês" de sua opinião e eu transcrevo-as assim como ele postou:

Primeira: nos quadrinhos, o Brasil segue a tradição do cartum, com uma pessoa só assinando texto e arte. Temos uma renca de ótimos cartunistas, chargistas, ilustradores. Nunca tivemos uma verdadeira indústria de HQ brasileira, que exigisse a divisão de funções e o ritmo industrial de produção. Quando tivemos, criamos roteiristas eficientes - seja na Abril dos anos 70 e até 80, seja nos estúdios de Maurício de Souza.

Concordo! E isso seria um sonho! Eu atualmente estou tentando fazer uma HQ a meses e não consigo pelo simples fato de que tenho emprego, faculdade e família pra me preocupar. Mas será que só isso resolveria a situação? Ter um mercado? Lembra o que eu postei aqui sobre isso?
Será que o roteirista brasileiro está preparado pra isso? 

Segunda boa explicação: publicamos poucos quadrinhos brasileiros. Os roteiristas têm poucas chances de exercer sua vocação, enquanto os ilustradores precisam continuar trabalhando sem parar, seja em ilustração comercial, editorial ou onde seja. É como no rock: se você toca pouco, não aprende a fazer show.

Acertou de novo! E não só isso. Se o cara não estuda, ou no caso dos roteiristas, não lêem muito e sobre variados temas, não vai adiantar muito só escrever. Vai sair porcaria.
O que eu vejo é que existem um monte de guris imitando o modelo americano de contar história e não sabem colocar nada de interessante pra agregar no roteiro.
Estamos cansados de ver gurias gostosas sendo atacadas em um beco escuro por assaltantes para que o herói seja apresentado. Isso tá mais do que batido!
Não é a toa que as melhores HQs do momento, pelo menos as mais badaladas, são aqueles em que o cara pega um "Quincas Borbas" pra ilustrar. Autores consagrados da literatura brasileira + boas ilustrações = $$$.
Aí não tem como se preocupar em dar chance pra roteiristas novos. Ninguém vai chegar nesse patamar tão rápido!

Terceira boa explicação: como publicamos poucos quadrinhos brasileiros, temos uma imprensa especializada condescendente. Qualquer trabalho assinado por um brasileiro merece aplausos, no mínimo por ter conseguido existir. Junte isso ao estilo natural do brasileiro, de evitar conflitos a qualquer custo, e estamos bem arrumados.

Também acho que tem muita porcaria no mercado e que tem vários baba-ovos pra aplaudir revistas no mínimo risíveis. Mas aí é que entram outros fatores, que é o da panelinha editorial. Todo mundo é muito amigo nesse meio, e fica chato falar mal da galera que anda contigo, né? Mas aí estamos falando de novo de pessoas que já estão na mídia e que, de um jeito ou de outro, já fazem parte da panela onde se incluem os medalhões!
De quais roteiristas ele deve estar falando?
Esses caras que são aplaudidos condescendentemente pela imprensa "especializada" não são os mesmos que estão sempre juntos dos melhores roteiristas? Será que esse povo não troca informações? Seria bom então um toque dos professores aos seus alunos, não acha?

Forastieri ainda comenta sobre a principal fonte de financiamento do quadrinho nacional nos dias de hoje, que são as leis de incentivo, através de dinheiro público.
O que tem salvo muita gente que quer publicar seu trabalho. Eu me incluo nisso, pois graças a Subversos pude mostrar minhas histórias. Mas sei que nem sempre o resultado é bom.
Existem muitas falhas de roteiro, de ilustração, de editoração, etc.
Mas é um caminho, que o próprio mercado tem oferecido no momento, e tem sido feito com resultado superior a fanzines e muitas vezes até a revistas!

Vejam bem, eu não estou criticando o post que ele fez, nem suas opiniões. De maneira nenhuma!
Só estou expondo meu ponto de vista sobre seu post e nada mais. Quero entender o que ele chama de bons e maus roteiristas.
Acho que esse tipo de coisa que ele está fazendo, abrir uma possibilidade de discussão sobre o assunto em seu blog, é fantástica!

Então sugiro que vocês leiam o post dele na integra, divulguem e debatam se possível!

Quem sabe a gente não acha um meio de melhorar o sistema e os futuros roteiros?

Talvez o mercado não esteja assim tão longe, tendo em vista os lançamentos de Jambocks (publicado pela Zarabatana Books) e Joquempô (pela Devir). Ambas são trabalhos selecionados no edital de incentivo à produção de histórias em quadrinhos, mantida pela área de cultura do governo paulista e prometem se prolongar por mais de duas edições. Jambocks em quatro e Joquempô, mais audaciosa pretende se extender por 11 arcos!
Mas será que elas serão avaliadas como bons roteiros no final?
Ou não passarão de revistas que serão lembradas pelas suas belas ilustrações?

4 comentários:

  1. Meu caro irmão, Vini...

    É complicado esse campo em que você entrou. Por que? Porque o Forastieri é um editor e jornalista [ao menos acho que é].

    Ele pode abrir a caixa de pandora e deixar com que saiam dela maravilhas ou maldições.

    Mas nós, que estamos envolvidos nessa trama, é mais difícil de ter uma opinião sem parecer algo puramente tencionado.

    Já pensei e pensei e pensei em escrever algo do gênero, mas como fazer isso sem puxar a fogueira pra minha sardinha?

    Mas vamos lá... de certa forma, você mata a charada quando diz que não há "realidade" para o roteirista exercer seu ofício. E não há mesmo. Qual o roteirista de cinema mais conhecido hoje em dia? Bráulio Mantovani. E além dele? Não sei.

    Nos quadrinhos é assim também. E lá vou eu falar isso novamente. Mas o público hoje consagra o Sidney Gusman - que é um ótimo profissional, diga-se de passagem - e o convida a eventos e entrevistas e tudo o mais, mas não dá chance a artistas [roteiristas/desenhistas] que poderiam esmiuçar seus métodos de trabalho. Acha que falo de mim? Negativo! Falo de Wellington Srbek, Wander Antunes e até mesmo Julio Shimamoto que tem uma criatividade ímpar, como por exemplo criar um pistoleiro de um braço só, ou um Xerife afrodescendente. E por aí vai.

    Mas lógico que esse não é e nem nunca será o calcanhar-de-aquiles dos roteiristas. É "um dos" apenas.

    Quanto a escolas de HQs, particularmente sempre fui contra. Porque escrever é o sentir, o analisar, o respirar. E isso não pode ser ensinado.

    Acho que o mercado só se abrirá para os quadrinhos nacionais quando os roteiristas e desenhistas se mostrarem. Mas ficamos no próprio dilema que você já mostrou: trabalho formal, universidade, família, filhos. O que sobra?

    Abraço!!

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  2. Para se tornar um bom roteirista não adianta só fazer cursinho ou ter talento. Devemos ter bagagem. O brasileiro não tem o hábito da leitura. Não estou falando só de ler quadrinhos,mas bons livros,ir no cinema.Como vamos ter imaginação se não a cultivamos? As editoras também não ajudam muito. Se a onda é mangá,as editoras trabalham em cima disto até estourar o saco. Não vejo mal nenhum se o desenhista escrever suas próprias histórias. Não esqueça que Will Eisner trabalhava assim. O mauricio de souza pode ter bons roteiristas,mas acho as estorias da turma da Mônica muito repetitivas. Para min,a revista nacional que teve o melhor time de roteirstas e desenhistas foi a Spektro,nos anos 70 e 80.Vamos melhorar,assim que os vinis e os tavares da vida tiverem reais oportunidades de publicarem suas idéias(sem panelinhas...) Um abraço!

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  3. Concordo com vc, Luiz.
    Valeu pelo comentário!

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  4. Sabe, gosto de escrever roteiros e percebo que conseguir alguma notoriedade com eles é mais difícil do que quando um desenhista tenta mostrar um desenho. Pode ser que eu esteja apenas chateado, mas sempre encontro desenhistas/roteiristas talentosos, mas dificilmente a união de um roteirista com desenhista para algo. Acho esse último caso raro mesmo. Já fucei em comunidades de relacionamento, já contatei desenhistas tentando mostrar roteiros meus, e eles nem ao menos se dão ao trabalho de responder... se coloco a ideia no Orkut, nem comentam. Tenho consciência de que meus roteiros não devem ser tão ruins, mas porque pelo menos um comentário, uma explicação, do tipo "não gostei da ideia" ou "vocÊ precisa melhorar?" Acho que para roteiristas, talvez o caminho seja mais difícil que o de desenhista...

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