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26 de out. de 2005

CASO VERDADE

Aviso: a história abaixo é verídica.

No entanto, por questões de segurança, os envolvidos pediram que suas identidades não fossem reveladas.
Por isso, seus nomes foram trocados no relato.
Orestes e Almeidinha (gostaram?) eram amigos de longa data. Moravam em bairros vizinhos, jogavam no mesmo time de pelada
efalavam as maiores baixarias no choppinho de quarta-feira depois do trabalho.
Sim... Orestes e Almeidinha trabalhavam na mesma empresa. E foi numa daquelas mornas tardes de trabalho que o inesperado aconteceu. Almeidinha estava enrolando na frente do computador.
Já tinha lido dezessete piadas de português quando bateu aquela irresistível vontade de tomar um cafezinho, ir ao bebedouro e, claro, como ele mesmo dizia, "dar aqueeeela mijada".
E lá foi o Almeidinha para o banheiro. Olhou-se rapidamente no espelho, ajeitou a gravata marrom (horrorosa), e quando abriu a porta da segunda cabine
(Almeidinha era fiel ao vaso como um cão. Quase supersticioso. Só ia na segunda cabine) deparou-se com uma cena até então inimaginável em seus piores pesadelos: Orestes, o bom e velho Orestes, morador do Méier, botafoguense (há coisas que realmente só acontecem aos botafoguenses) e pai rancoroso, estava ali, urinando sentado no vaso sanitário.
Almeidinha ficou mais pálido que bunda de padre.

Para ele, mijar sentado era (e é) um verdadeiro atentado contra toda e qualquer convenção de masculinidade.
Era (e é) um tapa na cara da tradição.
Era (e é) o que restava aos homens na luta contra a latente supremacia feminina.
Como é que ele, Almeidinha, "O" Almeidinha, cliente vip do Bar Luiz e chamado pelo nome na Vila Mimosa, poderia, a partir de então, passar a bola para o Orestes na pelada? Para quem ele enviaria aqueles e-mails com arquivos gigantescos de ninfetas nuas em ".pps"? Foi mais que um banho frio.
Foi, quiçá, um apocalipse... o maior desgosto da vida de um Almeidinha que, com um nó na garganta, ainda teve tempo de perguntar:

- Orestes... que p*%$#*orra é essa???
- Hã? O quê? Que é?
- gaguejava Orestes, que num primeiro estágio, ainda tentava disfarçar e fingir normalidade apesar dos olhos arregalados e das bochechas vermelhas.
- Orestes... (silêncio atônito)
- Que é, p*%$#*orra?!? Fecha essa porta, Almeidinha! Não tá vendo que eu tô aqui? - bradou, passando para o estágio 2 de quem é flagrado: o do contra-ataque.
- Fecha o cacete, Orestes! Fecha... o... cacete! Onde já se viu, rapá?! Tu tá mijando sentado, Orestes! Sentado! - gritou!
- Ih é... - voltando para o estágio 1.
- Orestes... sentado! - gritou mais alto.
- Shhhh... ô rapaz... - apontou para a porta do banheiro, pedindo silêncio e assumindo, ainda que parcialmente, sua condição passiva e culposa.
- P*%$#*uta m... - balbuciou Almeidinha, que como quem lamenta (ou reza), fechou os olhos, jogou o polegar e o indicador da mão direita (a que não estava segurando a porta) entre eles, respirou fundo, fez uma breve careta de quem respira fundo no banheiro, e voltou a perguntar:
- Orestes, vamos lá, o que tá acontecendo contigo?
- P*%$#*orra Almeidinha... - quase chorando.
- Não chora não, seu... seu... seu sentado ("xingou")! Conta logo senão eu...
- Tá bem
(interrompeu ousadamente)! É que segunda passada saí com uma loura descomunal. Almeida... nem te conto... 1,80m de mulher. Uma potranca!
- E daí? Ela te fez um "fio-terra" e você curtiu? Foi isso?
- Nããão... tô falando sério... a mulher era um estrondo, rapaz. A loura tinha um peitão, bundinha pra cima, toda se querendo (sic!) e na hora H... eu brochei.
- E daí?
- Daí que na terça quis dar a volta por cima e saí a Rosilene da xerox.
- A Rô?
- É... a Rô!

- P*%$#*orra, Orestes. Você nem conta!
- Pois é... logo com a Rô, moreninha, 19 aninhos, toda neném... na hora H, brochei de novo.
E no desespero, hoje na hora do almoço, recorri a uma profissional do ramo... aquela datatuagem, lembra?

- A do quadrilzinho?
- Essa aí! Brochei de novo.
- Orestes...
(tom solidário) tudo bem, brochar faz parte, pô. Mas mijar sentado? Por que? Pra quê?
- Almeidinha, depois de tudo isso você ainda acha que eu vou dar a mão para este filho da p*%$#*uta?!?!

Orestes
era mesmo um pai rancoroso.

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