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3 de dez. de 2009

Especial - Como Fazer? (Tiras) #2

Olá, mamonenses!
Nosso especial "Como Fazer? (Tiras)", onde mostra como os artistas preparam e executam suas tiras, está ficando cada vez melhor!
A bola da vez é o roteirista Cadu Simões, um dos fundadores do coletivo Quarto Mundo. Recentemente afastado para tocar seus projetos pessoais, como Nova Hélade, ele é mais conhecido pelas tiras do atrapalhado super-herói Homem-Grilo!
Abaixo você confere o bate-papo que tive com ele!

 
1) Acho que você é um dos únicos “roteiristas de tiras” por aí, não é, Cadu? Geralmente, o próprio desenhista monta suas tiras e tal. Como funcionou esse processo no inicio, como foi a procura por desenhistas para o trabalho?

Bem, há também o A. Moraes, que roteiriza as tiras da série Desvio, desenhada pelo Jean Okada. Não conheço mais nenhum outro roteirista que faz tiras além de nós dois, mas deve haver.
E na verdade eu nem curto fazer tiras. Exige uma boa habilidade de síntase que eu não possuo, por isso prefiro fazer HQs mais longas. Comecei a fazer as tiras do Homem-Grilo pois era uma forma mais rápida de atualizar o site do personagem enquanto o Ricardo não terminava de desenhar as HQs. As tiras também são mais práticas de serem lidas na Internet. Mas como eu disse, não é a minha praia. =)



2) O Homem-Grilo é um dos seus trabalhos mais conhecidos. Qual foi sua intenção na criação dele?

Sinceramente eu não tinha nenhuma intenção maior com o Homem-Grilo (e continuo não tendo). Nunca levei o Homem-Grilo realmente a sério, diferente de outras HQs minhas como Nova Hélade. Mas das minhas HQs, o Homem-Grilo é a mais fácil de escrever, o que acabou gerando uma maior produção, pois não requer muita pesquisa nem estudo anterior antes de começar a escrever os roteiros.
Basicamente uso o conhecimento que já possuo pra poder escrever. Isso já não dá pra fazer com Nova Hélade, por exemplo, em que cada capítulo dessa história requer meses de estudo e pesquisa sobre mitologia e literatura grega antes de ser escrito. Mas por ironia das ironias do destino, apesar de ser a HQ que eu menos me empenhei em fazer, o Homem-Grilo foi a que mais acabou dando certo. Vai entender! =)

3) Então vc provavelmente pensou num público-alvo para essas tiras?

Pensei. Mas com o tempo descobri que o público alvo que eu tinha pensado estava completamente errado. =)
No começo, pensei que o Homem-Grilo atinigiria um público alvo mais ou menos da minha idade, que lia muito gibi de super-heróis na adolecência, mas que depois de sagas do clones e várias crises infinitas, se cansou de ser tratado como idiota e acabou se enxendo desse tipo de quadrinhos. Mas então descobri que o público que estava lendo as HQs do Homem-Grilo não era esse que eu imaginava no começo. Esse público, aliás, ainda continua lendo e levando a sério as HQs de super-heróis, e por isso normalmente odeiam o Homem-Grilo, já que a última coisa que eu faço é levar os super-heróis a sério. =D
O público dele na verdade é uma galera muito mais nova, pertencente a geração digital, que nunca comprou um único gibi de super-herói na vida (ou mesmo qualquer tipo de gibi), mas lê muito quadrinhos na Internet, e só conhece os super-heróis como Homem-Aranha e Batman por causa dos filmes ou desenhos animados. Esse é o público que de fato lê e acompanha o Homem-Grilo. Então hoje em dia procuro criar os roteiros focando esse público, o que acabou gerando um fato curioso, pois acho que ele é o único super-herói lido por quem normalmente não lê, ou até mesmo nem gosta de quadrinhos de super-heróis. =)

4) Então, o Grilo nasceu pra quadrinhos e você acabou utilizando-o em tiras como propaganda desses quadrinhos, certo? Vc acha que o resultado no final foi satisfatório?

No começo sim, as tiras serviam como um chamariz pros quadrinhos. Mas com o tempo, conforme as tiras foram sendo publicadas, elas acabaram reforçando o conteúdo uma das outras, e funcionando por si mesmas. Aliás, muitos leitores me dizem que gostam mais das tiras dos que das HQs. Saber disso, pra mim, foi uma supresa, o que me deixou motivado pra quem sabe algum dia, imprimir um álbum reunindo apenas as tiras dos personagens.



5) Conta como é a produção dessas tiras? O processo de roteirização antes do desenho.

Bem, basicamente eu penso numa piada e vejo como posso melhor encaixar ela num espaço de três a quatro quadros, de forma que o timing dela, assim como o punchline, fiquem legais e criem o efeito cômico esperado. Aliás, saber dosar esse timing é algo que acho incrivelmente difícil numa tira, justamente pela minha falta de habilidade em sintetizar idéias.

6) Você se utiliza de várias ideias da cultura pop interligados a fatos de quadrinhos de super-herói, ou seja, você descobriu um mote e tanto para produção dessas tiras, pois tem muito assunto pra discutir... isso dá oportunidade também de expor suas ideias, opiniões e perspectiva das coisas. Essa era a intenção desde o começo?

Não, no começo minha intenção era apenas fazer uma simples paródia com os super-heróis e seus clichês. Com o tempo é que eu fui percebendo que dava pra fazer algo mais e ir além, usar outras referências culturais que nem mesmo são relacionads com quadrinhos ou super-heróis, e também adicionar uma crítica social e politica, como na sequência de tiras em que os vilões do Homem-Grilo explodem o congresso nacional e são considerados heróis por isso, invertendo completamente os valores morais, que em geral nas hqs de super-heróis costumam ser maniqueistas.


Homem-Grilo no magnífico traço de Samuel Bono.

7) O que vc pensa sobre a produção de tiras direto para internet, não depender de “sindicatos”, editores ou de espaço em jornais? Isso quantifica, mas na sua opinião, qualifica essas produções?

Eu acho maravilhoso. Eu mesmo nunca teria começado a fazer e publicar quadrinhos se não fosse a Internet. E na Internet descobri várias webcomics extraordinárias, melhores do que muitos quadrinhos impressos.
Afinal, uma boa HQ não é determinada pelo meio em que ela é publicada, mas sim pela habilidade de seu autor em contar uma boa história.
E essa habilidade você só ganha e desenvolve se você estiver produzindo e publicando constantemente. E não há lugar mais fácil e mais simples para publicar do que na Internet. =D


8) Vc acha que programas como Bitstrips, etc., agregam algo, ajudam essas  pessoas ou é só mais um desses programas “modinha” que logo cairão em desuso?

Como eu não desenho, sou uma pessoa que particularmente me divirto muito com esses programas. Mas eles, acredito, são mais pra se fazer tiras e quadrinhos de forma despretensiosa, como brincadeira. Se a pessoa prentende fazer quadrinhos de forma mais séria, aí esses programas já não rolam...

9) Qual é a dica para o leitor que tem interesse em fazer tiras?

Bem, a dica mais importante é, diferente de mim, desenvolver uma boa habilidade de síntese. =) E se for fazer quadrinhos de humor, leia as artes poéticas que tratam da comédia, desde a antiguidade clássica até os dias de hoje (comece por Aristóteles, apesar dele tratar mais em sua poética sobre a tragédia do que sobre a comédia).
E claro, além de ler sobre, você tem quer  conhecer as obras dos bons comediantes, de Aristófanes na grécia antiga a trupe do Monty Phyton.
Ajuda também estudar como o humor funciona e é interpretado pelo nosso sistema linguistico. Ainda que, como os próprios linguistas alertam, ao estudar isso muitas piadas deixarão de ser engraçadas pra você (afinal, as piadas lhe serão explicadas, e todo mundo sabe que quando isso acontece, perde-se a graça), por outro lado ao saber como elas funcionam, isso o ajudará a criar e desenvolver piadas melhores ainda.

10) Vc gostaria de deixar alguma mensagem, recado, jabá, etc?

Bem, vou aproveitar então pra divulgar a segunda edição do Sideralman, que será lançada em Outubro, e possui roteiro meu e desenho do Will (que é o criador do personagem).
Nessa edição será publicada também uma HQ de um outro personagem do Will, o Demetrius Dante, que eu também escrevi e foi desenhada pelo Laudo. É isso. =)


Para saber mais, acesse:
Cadu Simões
http://cadusimoes.com
http://homemgrilo.com
http://novahelade.homemgrilo.com

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