Pages

23 de nov. de 2009

Tiras: Como Fazer?

Tentando atender a uma vasta legião de pessoas que se interessam em fazer tirinhas para internet, mas não sabem desenhar nem um palito parecido com o Dr. Pepper, bolei em fazer, há um tempo atrás, uma matéria sobre "Como Fazer Tiras".
Fiquei pesquisando durante três árduos meses na internet sobre o assunto.  A ideia inicial era apresentar alguns desses programas que já vem com os desenhos, balões e cenários, para que a pessoa faça sua própria tira. Cara, descobri que tem muito disso pipocando na internet! Alguns interessantes, bem montados, etc., mas outros nem tanto. Tem uns bem tosqueira e com n° absurdo de usuários que fazem só tosqueira. Desses programas, acho que os mais famosos são: o Stripgenerator e o Bitstrips.  
Uma tira especialmente feita no Bitstrip
Mas aí pensei que esse tipo de post num blog seria meio vazio e seria mais do mesmo, já que tem tantos posts sobre isso por aí, e eu, definitivamente, não queria fazer algo igual. Então, resolvi bolar algo e falar mesmo sobre o assunto. Como fazer tiras?
Primeiro vieram vários questionamentos:
- Como fazer isso?
- Como mostrar o passo-a-passo da feitura de uma tira?
- Como formatar isso num blog para que não fique enfadonho e desinteressante?
- Até quanto eu entendo sobre tiras pra passar isso?
- Vão me achar pretensioso por isso? 
- Vão notar que há meses eu não faço uma só tira? =)
 
Então, cheguei a uma conclusão óbvia: Não tem como fazer isso!
Fazer coisas baseadas em fatos reais é uma boa também.  
E por quê? Porque existem zilhões de maneiras de se fazer uma tira e cada um tem o seu jeito de fazer. 
Tem tiras pra todos os gostos!
Tem as de humor, como Hagar, que são as mais comuns hoje em dia, até as de ação, como Flash Gordon, que foram muito mais comuns na década de 30.   
Até nesses programas existem várias possibilidades de se contar uma história.
 
Então, por que não falar sobre tiras?
Quem sabe mostrando alguns exemplos e um pouco da história das tiras, não aguçe um pouco essa cabecinha sedenta por conhecimento quadrinístico, hein pequeno padawan?
Portanto, senta que lá vem a história!
Vamos começar definindo o que são tiras.
Tiras são basicamente: desenhos onde há a apresentação de personagens em situações diversas, dispostas normalmente em número inferior a quatro quadros e dispostas, em sua maioria, horizontalmente. São vários os gêneros explorados para essa arte, como ação, aventura, mistério, espionagem, cômicos, policial, drama, heróis e super-heróis. Podem ser publicadas diariamente, semanalmente ou qualquer outra periodicidade, dependendo do veículo da qual ela está sendo publicada, como por exemplo, revistas, jornais ou internet, que neste último caso, são normalmente denominadas (erroneamente a meu ver) de webcomics.
Mas isso, aposto que você já sabia. 
Vamos passar para a parte histórica da coisa, agora.
Seria bom a gente iniciar o papo pela sua provável origem, quando a primeira tira de The Yellow Kid (ou O Garoto Amarelo, nome mais conhecido de Mickey Dugan, personagem principal de Hogan´s Alley) que era desenhada por Richard Felton Outcault, foi publicada em preto e branco, no dia 17 de fevereiro de 1895, no jornal New York World.  
À partir de 5 de maio, deste mesmo ano, passou a ser apresentada a cores, depois que passou a receber apoio dos personagens secundários. Portanto, além de ser provavelmente a primeira tira em quadrinhos do mundo, foi uma das primeiras a serem impressas à cores. Gradualmente Yellow Kid foi se tornando parte das páginas de domingo e depois passou a aparecer várias vezes na semana.
Yellow Kid era uma criança calva, desdentada, com um largo sorriso no rosto e usava sempre uma camisola amarela. E foi nessa camisola que foram utilizadas, também pela primeira vez, o artifício de usar balões para mostrar as falas dos personagens. Na época a tira do jornal foi descrita como um panorama teatral da cidade, que mostravam as tensões raciais do novo mundo urbano, o ambiente consumista, representado por um grupo danoso de habitantes da Cidade de Nova Iorque, que gostava de lidar com coisas erradas. Ou seja, desde o começo, as tiras são um meio de comunicação para que o artista possa expressar não só a sua opinião, mas também os valores de sua época.
Tiras também são uma maneira de protesto!  
E no Brasil isso é mais do que verdade! É por isso que muitos “tirinistas” acabam fazendo também charges políticas. Além de pagar bem, é uma maneira de expor suas opiniões políticas da melhor maneira. Ou você já ouviu alguém, apesar do sorriso amarelo, discutir que uma charge foi contra o que ele acredita ou o que ele segue na política? É a melhor forma de “cala-a-boca” que eu conheço.
Leia aí minha charge e engula o que eu disse!
Mas isso depende da mídia da qual você se utiliza para publicar. 
Existem muitos casos de editores censores que torram o saco do pobre coitado artista!
Uma charge ou tira tem o lado "perigoso" e fantástico de influenciar uma opinião! 
Por falar em censura, um fator quase certo para que a tira ou charge seja limada é a religião. Dependendo do teor dela a confusão é imensa!
Portanto, entenda: o ser humano ainda não está preparado para discutir certos assuntos. Ou você pega leve ou aguenta as consequencias! 
Voltando ao lance histórico, as tirinhas de quadrinhos nos Estados Unidos são distribuídas por Syndicates. Eles funcionam nos mesmos moldes das grandes agências de notícias, só que ao invés de distribuir notícias, distribuem quadrinhos.
Aquelas letrinhas que vemos nas verticais das tirinhas americanas, nos jornais brasileiros, são os nomes dos syndicates (ou agências) das quais aquelas tirinhas fazem parte.
O King Features é um dos mais tradicionais. Ele detém os direitos de uma penca de personagens “velhos de guerra” como: Recruta Zero, Homem Aranha, Belina, Mandrake, Fantasma, Crock, Zoé e Zezé, Príncipe Valente, Popeye, Hagar, Os sobrinhos do Capitão, entre muitos outros.
Se você manja um pouco de inglês, vale a pena conhecer o site. Lá é que são disponibilizados para vendas em jornais, os vários quadrinhos, com uma breve sinopse e ao menos sete tirinhas de cada autor. Você ainda pode ver as biografias de seus cartunistas preferidos!  
Ainda no tópico História das Tiras e Syndicates, temos algumas curiosidades sobre o tema. É sabido que o homem começou a desenhar nas paredes das cavernas para contar o seu cotidiano. Se você reparar bem, essa “história desenhada” pode ser encarada como quadrinhos ou até tiras, dependendo do seu ponto de vista;
Quando os egípcios usaram a mesma idéia para passar seus costumes e ideologias nas paredes do Egito ou então, na era Cristã, quando a via-crúcis que foi contada através de uma seqüência de imagens, tivemos aí o nascimento dos quadrinhos, até que William R. Hearst, dono do Morning Jornal e Joseph Pullitzer, do New York World descobriram que a arte seqüencial aumenta a venda dos jornais.
À partir daí, todos os donos de jornais adoraram a idéia e começaram a querer os melhores artistas para seus jornais.
Muito antes da grande demanda pelas tiras diárias, os syndicates já faziam um trabalho de distribuição de noticias principalmente para jornais de pequeno porte que não tinham a estrutura necessária para manter seus próprios repórteres, desenhistas, etc. Essas agências passaram então a contratar desenhistas famosos e distribuir as cópias de suas tiras a vários jornais. Como o custo era baixo, uma vez que contratando o desenhista o syndicate tinha a propriedade de seu trabalho e autorização para fazer quantas cópias quisesse e vendê-las a quantos jornais fosse possível, não tardou até que eles dominassem o mercado editorial norte-americano e também o internacional.
Os artistas que não fossem filiados a algum syndicate dificilmente conseguiam trabalho, uma situação que acontecia não só nos Estados Unidos, mas também em países da Europa e também no Brasil. Houve exceções, mas de um modo geral os syndicates eram quem dominava o mercado das tirinhas diárias. Mais uma vez, pobres artistas!
Nos anos seguintes novos formatos de histórias foram criados. Dos heróis espaciais como Buck Rogers e Flash Gordon aos super heróis como Superman e Batman, a popularidade dos quadrinhos ultrapassava as fronteiras norte-americanas pelas mãos dos syndicates e chegava a Japão, Europa e também ao Brasil.
Vemos aí, que as tiras nasceram dos quadrinhos e o mesmo pode ter acontecido vice-versa. Não tem como falar de tiras sem falar de quadrinhos.
 Você pode usar persoangens consagrados pra fazer tiras. Sempre dá certo!  
Mas o post é sobre como fazer tiras. Acho que o caminho mais óbvio é você começar a fazer. Treino é tudo. Faça 5, 10 ou 20 por dia, dependendo da sua mente criativa, refaça metade e não fique na dúvida em joguar a outra metade fora se ficar ruim. Acontece. Bastante!
Cada um tem um jeito de produzir e você terá que achar o seu.  
De repente você descobre um bom personagem, um bom mote, uma piada legal e aí a merda tá feita! Você passa de ilustre desconhecido para famoso ilustrador em segundos. É lógico que talento conta muito nessas horas.  

Receita de bolo: Você escolhe um gênero, bola um personagem, bola um título pra ele, conta histórias sobre este personagem ou sobre uma situação...
Mas como contar isso em 3 quadros? Será que você consegue? Essa é a parte da receita que é uma incógnita. Até porque muito depende do público que está lendo.   
Isso é realmente difícil, principalmente se você escolheu tiras cômicas pra fazer. Na ação, você precisa fazer com que o leitor fique instigado a ler a próxima, esperar por ela. Assim como faz o tirinista Fabio Ciccone com o seu Magias e Barbaridades. As tiras são na verdade, quadrinhos apresentados em forma de tiras semanais.
Nas tiras de humor, você precisa manjar um pouco como funciona o punchline de uma piada. Se a piada não for forte o suficiente para tirar um sorriso que seja pelo menos para que a pessoa pense sobre o assunto.
O conselho que dou é que você faça várias antes de começar a publicar. Tanto pra treinar, quanto para ter tempo de estruturar melhor seu personagem. Eu sempre tive dificuldade de dar continuidade à tiras. Já fiz várias. E variadas. Mas nunca termino uma série.
 Agripino Meia e Sr. Felpudo foi uma das tentativas. Ainda tenho algumas guardadas.
Homem-Grilo que fiz em parceria com Cadu Simões. Algumas eram roteirizadas por mim.
 O Azar é seu! Sobreviveu apenas 5 tiras.
Havano era um projeto para esse ano, mas infelizmente não deu certo sua continuidade.  
Então, quem quer fazer tem que fazer o oposto do que eu faço. =)
Tem que se concentrar nisso e só. Como faço quadrinhos, ilustração e outras coisas, não me preocupo tanto com tiras. Na verdade, quero me dedicar a elas só a partir de Agosto do ano que vem. Mas as tiras são uma boa maneira de você ter visibilidade em seu trabalho, sem dúvida.
Muita gente se deu bem ultimamente com elas. Mas as que vão perdurar, sem dúvida, são as dos caras que tem talento pra contar uma história e faz todas elas na unha mesmo.  Sem essa de programinha para fazer tiras.
Aposto com qualquer um sobre isso.
Mas então esses programas não ajudam? Bom, no mínimo servem pra divertir.
Se você é uma pessoa que tem umas idéias boas para tiras, talvez se dê bem com algum desses programas (meu conselho é que você procure um ilustrador para fazer parceria), mas pegar, por exemplo, piadas da internet e jogá-las nesses programas, só pra fazer graça, só vai fazer com que você tenha notoriedade num pequeno grupo e só. Ninguém vai pagar por isso.
E o máximo que você consegue é que eles sejam distribuidos por e-mails através de Power Point.
Mas se é isso que você procura, bom... seja feliz!
A melhor maneira que achei de fazer a coisa certa pra passar pra vocês foi perguntando pra quem entende mais do que eu, qual é o caminho das pedras. Portanto, a partir da semana que vem vou começar uma série de entrevistas com alguns dos mais conhecidos tirinistas da internet e no final uma entrevista surpresa com um dos melhores tirinistas e chargistas da atualidade. Vocês vão conhecer a opinião dos caras que fazem!
Aguardem!  


Links interessantes:
Todas minhas tiras no Tiras Nacionais 
Peanuts (Snoopy)
Grump (Orlandeli)

6 comentários:

  1. Cara! Bela historia....muita coisa eu realmente não sabia, hehehe! Parabéns pelo lindo trabalho!!!

    abração do Zé!!

    ResponderExcluir
  2. Tô véio.
    Te falei que te recomendei pra um meme?

    passa lá no ASV e dá uma conferida. Eu simplifiquei a coisa, mas acho que é a sua cara.

    ResponderExcluir
  3. OLÁ, POR FAVOR EU QUERIA QUE VC ME INDICASSE UM PROGRAMA QUE FAÇA TIRINHAS COM AQUELES BONECOS DE PALITO, IGUAIS AO DO DR. PEPPER. POR FAVOR E URGENTE!!!!!

    ResponderExcluir
  4. Oi, João. Na verdade eu não conheço nenhum programa que faça isso não.
    Aliás, o Dr. Pepper é feito a mão mesmo.
    Se você não consegue fazer nem uns hominhos palitos, algo está errado contigo, rapá! =)
    Abraço!

    ResponderExcluir
  5. Tenho uma dúvida quanto ao comentárioa acima, se dr. pepper eh feito a mão, após as tirinhas serem publicas e lançadas na internet, elas são, como poderia dizer, refeitas, pois não parecem ser feitas a mão.

    ResponderExcluir
  6. Diogo, existem duas maneiras delas serem feitas "à mão". Uma, sendo feitas no papel mesmo, scanneadas e pintadas pelo Photoshop e a outra, que deve ser o caso de Dr. Pepper, através de uma pen tablet, diretamente no computador.
    O fato de serem feitas assim não tiram a ideia de que são feitas à mão!

    ResponderExcluir

Comentaê